Openstudio, de Rodrigo Sasi

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O nome da marca de Rodrigo Sasi diz muito sobre ela: Openstudio. Sua estação de trabalho é, de fato, um estúdio aberto em um predinho no meio do centro histórico de Curitiba, que passa atualmente por uma reforma para abrigar showroom, ponto de venda para o público e uma varanda para reuniões, eventos e encontros. Lá, oferece edições limitadas para um guarda-roupa masculino completo essencial (camisaria, camisetas, tricôs, casacos e calças), temperado com informação de moda.

O sobrenome da Openstudio é igualmente esclarecedor: Smart Casual for Cool Guys. Assim, traça a fina linha que separa o moderno do básico e é sempre uma bússola para as grifes masculinas. “Navegamos nesse nicho smart casual, que já é bem estabelecido no exterior, mas ainda um espaço a ser explorado no Brasil,” defende o estilista.

Sua proposta é fomentar o mercado brasileiro, mas não apenas usando matéria-prima nacional. “É importante para mim mantermos a produção em Curitiba, pois não existe indústria de moda aqui. Há o polo industrial do Paraná, mas a capital é uma referência de criatividade, não de produção. É um processo muito informal e as marcas muito pequenas que não conseguem crescer,” avalia Rodrigo Sasi, que é formado em design de produto pela Puc local e começou a Openstudio vendendo roupas para os amigos na sua cidade, depois pela internet para o país todo.

“Sempre desenhei moda e ouvi chacotas por isso, mas mesmo assim fui estudar moda e fiz um curso técnico de desenho, com apoio do meu pai. Eu era trainee em um multinacional e larguei para fazer um estágio em uma marca infantil onde fiquei por três anos e me deu toda base de produção que desenvolvo na Openstudio,” recorda Rodrigo Sasi. Depois, o estilista foi a Buenos Aires fazer um curso de pós-graduação em marketing de moda, e quando voltou entre 2012 e 2013 já começou a Openstudio. “Na Argentina tem muitas marcas masculinas jovens e casuais. No Brasil ficamos presos ao que é ou muito extravagante e muito moderno, ou muito clássico.”

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Quando começou, a Openstudio era focada no atacado e a mudança para o varejo acabou sendo seu primeiro erro como empresário. “Acreditei que poderia produzir menos e ter um mark-up maior, e foi em uma época em que as marcas estavam migrando para o e-commerce, então estava otimista. Porém, fiquei meses sem vender nada. Por conta disso, fizemos ajustes em nossa operação e nossa plataforma digital, até começarmos a vender melhor. Desde então, só vendo online e não me arrependo.” Uma fonte importante de clientes é o Instagram, onde atrai homens de 25 a 35 anos.

É por isso também que nunca teve ponto fixo, somente esse showroom que funciona como depósito, ponto de encontro e ateliê. “É um espaço legal e as pessoas adoram a ideia de ser uma loja que não é loja… Nunca quis um ponto de venda convencional, afinal era pra ser o espaço de atendimento a lojistas, para o atacado, e não para clientes de varejo. Mas invertemos essa situação: se as pessoas querem ir lá e se isso causa uma curiosidade nelas, vamos atendê-las aqui. Essa reforma agora é para adequar meu espaço de trabalho ao de atendimento.”

Como seu processo é quase terceirizado, apenas duas pessoas que trabalham com ele ali, coordenando a produção com sete grupos de faccionistas, que suprem a frequência de lançamentos a cada 45 dias. Já abandonou o sistema de estações, pois pretende expandir as vendas no mercado internacional, o que demanda uma coleção versátil o ano todo.

“Minha ideia é aumentar a escala da produção da Openstudio, e por isso talvez seja muito mais viável e saudável vender também para fora do Brasil. Vender aqui é difícil, especialmente em grande quantidade, por conta de condições de pagamento em 30/60/90 dias sendo que meu giro é na hora, preciso pagar matéria-prima à vista, e pagar a mão-de-obra em 15 dias. E no mercado internacional isso muda, pois o pagamento é sempre à vista antes do pedido sair. Acho injusto também o modelo consignado (em que você deixa as peças numa loja e só recebe se vender). É minha empresa, tive que fazer um investimento nas peças. Fica contra o meu princípio de que todos elos da cadeia têm que ganhar algum dinheiro,” aponta Rodrigo Sasi, sobre os modelos de negócio.

“Apesar de pequenos, seria errado nos definir como slow-fashion, pois eu quero criar uma escala maior de produção, quero crescer e faturar. Como a mão-de-obra é toda local, tenho costureiras que trabalham comigo desde que comecei, mas tenho feito teste com novas costureiras justamente pensando em maior escala. Como trabalhei em outras marcas, eu trouxe muitas profissionais para me ajudar. Tem muitas costureiras procurando faccionar para outras marcas, porém com pouca habilidade industrial. A demanda ainda é maior do que podemos produzir pois não encontramos ainda quem faça esse trabalho pra gente,” aponta.

Essa relação com a equipe de costura e modelagem fideliza as profissionais com ele, que nota a diferença na qualidade de produção das peças. “Acreditamos que a cadeia produtiva deve ser bem remunerada, é o mínimo que posso fazer. E ainda assim, pagamos geralmente cerca de quatro a cinco vezes mais que marca nacionais grandes pagam pelo mesmo serviço. Mesmo produzindo em maior escala, esse valor não me onera, e isso garante que o processo todo seja mais limpo, com menos erros, que vai me ganhar tempo lá na frente. Tenho uma equipe enxuta e uma estrutura de venda online, fatores esses que podem influenciar também no preço no futuro. E mesmo tendo uma loja, manteria esse processo, pois são meus princípios. Um cliente que paga caro por uma peça e não percebe esse cuidado com ela, não volta mais,” defende ele sobre a ideia de luxo acessível.

Ele atende a um cliente que queira exclusividade, mas ainda não compra uma marca internacional. “É premium, uma alternativa ao luxo, pois tem bons materiais e um produto de qualidade e também por este formato de exclusividade. Funciona com o meu público e com o segmento masculino em geral, pois eles são fieis. Quando um peça dá certo, compram vários do mesmo modelo. A Openstudio tem um público gay muito recorrente. Não era a ideia inicial, pois queria vender para todo mundo, porém acabou se tornando uma identidade. Somos straight-friendly,” explica.

O clássico preto numa aparece em suas coleções, fora em detalhes muito pontuais. Rodrigo Sasi acredita que não é uma cor que favorece o estilo casual e por isso prefere o azul-marinho. Neste fim de ano, lança peças para festas e para verão, além uma linha nova de acessórios, com 10 mochilas e pochetes que chegam para o Natal em edição limitada. Sem contar peças que sempre fizeram sucesso, como macacão branco, capa de chuva, tricôs, e jaquetas e casacos de lã sob encomenda. Para o inverno, que chega no início de 2020, anuncia uma parceria com a Vicunha, para jeans e sarjas, e uma oferta maior de calças e blazers de alfaiataria.

“A construção da marca foi muito natural e não forçada. Nossa roupa é muito básica, mas tem um charme. Como designer, acredito que a peça precisa cumprir a função de vestir, mas ao mesmo tempo precisa ter uma imagem. Sempre me questionei por não ser muito conceitual, é um desafio pra mim. O Turco Loco, da Cavalera, foi meu mentor uma época e falou que se eu tinha uma pegada comercial não precisava questionar o conceito, pois ele estaria embutido em tudo o que fizer.”

As fotos da campanha são de Fred Othero, inspirado no quadro “Model with Unfinished Self Portrait” (1977), de David Hockney, mas que lembra também um cenário forense, meio “Dexter”, meio “CSI”. Os modelos são João Evaniki e João Orlandin, ambos da Way Model.

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